Fraude no INSS: PF aponta bolsonarista Felipe Macedo como “principal operador financeiro”
Investigadores identificaram grupo de jovens ricaços que controlavam associações usadas para viabilizar descontos ilegais de aposentados e pensionistas. Felipe realizou doações para políticos alinhados com Jair Bolsonaro
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As investigações sobre confiscos ilegais nos benefícios de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) estão avançando. Com a autonomia da Polícia Federal respeitada pelo governo Lula, assim como colaboração da Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema obscuro está sendo revelado. As diligências chegaram até o empresário bolsonarista Felipe Macedo Gomes, que presidiu a Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), uma das entidades que mais lucraram com o esquema de descontos ilegais.
Na semana passada, a Polícia Federal identificou uma frota milionária de carros de luxo que pertencem a um grupo de jovens ricaços acusados de envolvimento com as entidades que atuaram nos confiscos. Eles foram alvos da Operação Sem Desconto, criada para apurar as irregularidades que tiveram início no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e podem ter gerado prejuízo de até R$ 6,3 bilhões para os segurados do INSS.
Além de Felipe, fazem parte do grupo identificado os empresários Américo Monte Junior, Anderson Cordeiro e Igor Dias Delecrode. Além da ABCB, também são investigadas as entidades Master Prev, Associação Nacional de Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas (ANDAPP), a Associação de Amparo Social ao Aposentado e Pensionista (Asaap). As diligências apontam que Felipe Macedo é o “principal operador financeiro do grupo”. Ele era próximo do PL, partido de Jair Bolsonaro e fez diversas doações para políticos alinhados com o ex-presidente que deixou a farra do INSS correr solta, prejudicando milhões de beneficiários. O suspeito nega as acusações e diz que não participou de nenhuma irregularidade.
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CPMI
Felipe Macedo será ouvido nesta segunda-feira (20) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para apurar as fraudes. Além dele, os parlamentares também realizam a outiva da ex-integrante do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) Tonia Andrea Inocentini Galleti, que deverá informar aos parlamentares o que teria bloqueado suas denúncias e pedidos de regulamentação dos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados com associações e sindicatos.
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O depoimento de Felipe Macedo Gomes atende a requerimentos apresentados pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES) e também pelos deputados Rogério Correia (PT-MG), Orlando Silva (PCdoB-SP), Paulo Pimenta (PT-RS). Ao justificar o depoimento (REQ 910/2025), Fabiano Contarato aponta que Felipe Gomes teria sido identificado pelas investigações da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União (CGU) como um dos operadores do esquema de fraudes no INSS.
Segundo o senador, entre 2022 e 2024, o ex-dirigente da associação teria movimentado mais de R$ 1,1 bilhão por meio de descontos indevidos em benefícios previdenciários.
“A Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB) foi autorizada a descontar até 2,5% sobre os benefícios previdenciários em 2022, passando a executar cobranças que atingiram milhares de aposentados e pensionistas, muitos sem qualquer vínculo ou autorização expressa para filiação à entidade”, afirma Contarato.
As investigações também revelam que durante a tramitação do convênio da ABCB com o INSS, Felipe atuou politicamente para obter respaldo junto a lideranças do PL, partido do ex-presidente, e intensificou doações eleitorais a políticos alinhados ao governo. Pouco tempo depois de celebrar o acordo com o INSS, Felipe doou 60 mil reais para Onyx Lorenzoni, ex-Ministro da Previdência. José Carlos Oliveira, amigo pessoal da família de Felipe Gomes, era o Ministro da Previdência quando a Amar Brasil ganhou o acesso à folha de pagamento de aposentados e pensionistas.
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A presença de figuras como Onyx e Oliveira, ambos com histórico de atuação próxima a Bolsonaro, demonstra que o esquema encontrou respaldo político no alto escalão da administração anterior.
Com o avanço das diligências, está mais do que provado que a gestão Bolsonaro ignorou o fato da entidade não ter sede e nem funcionários,a CGU verificou que no endereço informado havia uma outra empresa que prestava serviços de logística. O e-mail utilizado por Felipe Gomes nas tratativas com INSS era o mesmo de sua fintech: a redbank.
A “vida de luxo” mantida pelo operador contrasta com a realidade dos mais de dois milhões de aposentados prejudicados. Felipe Macedo levava uma rotina de ostentação com viagens internacionais, jet skis, festas, imóveis de alto padrão e até uma Ferrari adquirida por um de seus operadores.
Diversas reportagens da mídia nacional mostram que, enquanto o dinheiro entrava, Felipe Macedo diversificava seus laços de influência. Firmou contratos com parentes de servidores do INSS, como o filho do ex-diretor de Benefícios André Fidelis e a companheira do ex-procurador-geral Virgílio de Oliveira Filho.
Da Redação, com informações da Agência Brasil